segunda-feira, 26 de março de 2007

Evolução

Evolução
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Evolução é qualquer processo de crescimento, mudança ou desenvolvimento. A palavra provém do Latim evolutio, significando "desabrochamento", e antes do fim de 1800 foi confinada a referir-se à evolução meta-dirigida, processos pré-programados como desenvolvimento embriológico. Uma tarefa pré-programada, como uma manobra militar, segundo esta definição, pode ser considerada uma "evolução". Pode-se falar também de evolução das estrelas, evolução cultural ou da evolução de uma idéia.


Árvore filogênica
No século XIX a palavra "evolução" era identificada com melhoria. Estava claro para os pensadores Europeus daquele tempo — no despertar do Iluminismo e da Revolução Francesa — que as sociedades humanas haviam evoluído; muitas pessoas têm dito o mesmo sobre a evolução biológica das espécies. No século XX, a maioria dos cientistas sociais vieram a rejeitar a estrita definição de mudança social e cultural como melhoria. A maioria das idéias sobre a evolução das espécies, antes de Darwin, como por exemplo as idéias de Lamarck, interpretavam igualmente as mudanças biológicas como uma melhoria; no entanto a seleção natural — proposta por Darwin na metade do século XIX e que ainda é aceita em praticamente todos os círculos científicos para a adaptação biológica — não implica em alguma forma de melhoria "absoluta", rumo a uma perfeição ideal, mas é meramente o resultado do acúmulo de características hereditárias que ao longo do tempo, em dado momento da história das linhagens, foram relativamente vantajosas aos seus portadores em seus respectivos ambientes.

Desde o século XIX, "evolução" é geralmente usada como referência a uma evolução biológica e mudanças nas características da vida. Frequentemente é uma referência à teoria da evolução moderna baseada nas idéias de Charles Darwin da seleção natural, que costituí a base de toda Biologia Moderna.

Índice
[esconder]
1 Evolução Biológica
2 O surgimento de novas características
2.1 Microevolução e Macroevolução
2.2 Sobrevivência diferencial de características
2.2.1 Seleção natural
2.2.2 Deriva Genética
3 Evolução: a controvérsia cultural
4 Desenvolvimento das teorias evolutivas
5 Programação evolutiva
6 Cientistas famosos no campo da evolução
7 Bibliografia
8 Ver também
9 Ligações externas



[editar] Evolução Biológica
A teoria evolucionista, que é aceita em praticamente todos os círculos científicos, tem três aspectos principais.

A relação ancestral entre os organismos, tanto vivos quanto fossilizados.
O aparecimento de novas características em uma linhagem.
O mecanismo que faz com que algumas características persistam enquanto outras perecem.

A maioria dos biólogos evolucionistas acredita que toda a vida na Terra descende de um ancestral comum, habitualmente chamado de LUCA (Last Universal Common Ancestor — Último Antepassado Comum Universal). Esta conclusão é baseada no fato de que os organismos vivos apresentam características básicas extremamente semelhantes (como o código genético). Diferentes grupos de pessoas olham para estas características e, incrivelmente, tiram diferentes conclusões. Os que defendem a teoria do Projeto Inteligente dizem que isso reflete um planejamento, uma mente superior que designou para os seres vivos características que seriam as melhores para a vida. Já os Criacionistas defendem que o fato da vida apresentar aspectos semelhantes em todos os seres vivos só evidencia que eles tiveram um mesmo Criador, que teria um estilo de "criação" particular. É importante saber que o Design Inteligente e o Criacionismo não são teorias e muito menos científicas, pois não possuem absolutamente nenhuma evidência e nenhuma publicação.

O estudo dos ancestrais das espécies é a filogenia. A Filogenia tem revelado que órgãos com estruturas internas diferentes podem possuir semelhanças superficiais e realizar funções similares. Estes exemplos de estruturas análogas, mostrando que há múltiplos caminhos para resolver a maioria dos problemas, tornam difícil acreditar que as características universais da vida são todas necessárias. Do mesmo modo, outros órgãos com estruturas internas similares podem realizar funções radicalmente diferentes. Os membros dos vertebrados são o exemplo mais comum de estruturas homólogas, órgãos em dois organismos que compartilham uma estrutura básica que existia no último ancestral comum destes organismos.

A teoria da evolução que atualmente domina é chamada de síntese moderna, referindo-se à síntese da teoria da evolução de Darwin pela seleção natural com a teoria genética de Gregor Mendel (estudou a herança das características das ervilheiras desta forma as leis básicas da hereditariedade que é o caráter transmitido por herança). De acordo com esta teoria, o evento fundamental da especiação é o isolamento de duas populações, que permite que seus recursos genéticos entrem em divergência. Uma evidência adicional da existência de um ancestral universal da vida é que a abiogênese (surgimento espontâneo da vida) nunca foi observada. No entanto, experiências como as de Oparin indicam que era possível o surgimento do primeiro ser vivo através da evolução química, nas condições da Terra primitiva. Esta hipótese é a atualmente mais aceita nos meios científicos. Outra hipótese é a de que o primeiro ser vivo veio de fora do planeta Terra.


[editar] O surgimento de novas características

Evolução dos peixes aos anfíbios
Se a vida tem que mudar, então novas características têm que surgir em algum momento. A Genética tem estudado como as características surgem e são passadas para as gerações seguintes. No tempo de Darwin, não havia um mecanismo que explicasse a hereditariedade. Sabe-se agora que a maioria das variações herdadas pode correlacionar-se com entidades discretas e persistentes chamadas "genes", que são fragmentos de uma molécula linear chamada DNA. Provou-se em laboratório que modificações no DNA, conhecidas como mutações, produzem alterações nas características dos seres vivos. Além disso, variações no DNA, isoladamente, podem ter pouco efeito fenotípico, mas criam novas características quando combinadas em um organismo através do recombinamento genético. O Recombinamento Genético é produzido tanto pela fusão de células de sexos diferentes (como na reprodução sexual dos organismos eucariotas) quanto pela tranferência de material para dentro de uma célula intacta (como a conjugação e transformação bacteriana).

Pesquisadores também estão investigando variações hereditárias que não estão relacionadas com as variações das sequências do DNA mas que influenciam a replicação padrão do DNA. Os processos que produzem essas variações deixam a sequência genética intacta e são frequentemente reversíveis. Estas variações são frequentemente designadas como herança epigenética e podem incluir fenômenos como metilação do DNA, príons, e herança estrutural. As investigações buscam saber se estes mecanismos permitem a produção de variação hereditária benéfica específica em resposta aos sinais ambientais. Se for demonstrado que é esse o caso, então alguns exemplos da evolução estariam fora da estrutura que Darwin estabeleceu, pois esta evitou qualquer conexão entre os sinais ambientais e a produção de variação hereditária. Em geral, Darwin sabia pouco sobre a natureza ou a fonte da variação hereditária.


[editar] Microevolução e Macroevolução
Microevolução refere-se às mudanças em pequena escala nas frequências genéticas em uma população ao longo de poucas gerações. Estas mudanças podem ser devidas a varios processos: mutação, fluxo gênico, deriva genética, assim como a seleção natural. Macroevolução refere-se às mudanças em larga escala nas frequências de genes em uma população ao longo de um grande período de tempo (e talvez culmine na evolução de uma nova espécie). A diferença entre as duas é difícil de distinguir porque, com o tempo, sucessivas mutações minúsculas semelhantes àquelas evidenciadas na microevolução se acumulam em populações isoladas e acabam por criar novas espécies, o que é conhecido como macroevolução. Os dois termos não são muito usados pelos cientistas, que não vêem nenhuma necessidade de referir-se ao mesmo processo por nomes diferentes por causa do grau a que o processo ocorre. Os dois termos são largamente usados pelos fundamentalistas religiosos, que dizem que a microevolução pode e acontece mas a macroevolução não pode, esquecendo que ambos são o mesmo processo, com o último simplesmente levando mais tempo.

O estudo da macroevolução tenta responder a perguntas como;

Por que os maiores grupos de animais subitamente apareceram nos registros fósseis (fenómeno conhecido como a Explosão Cambriana)?
Por que nenhum novo grupo principal de coisas vivas apareceu no registro fóssil por muito tempo?
Por que a evolução aparentemente ocorre em esguichos, com muitas espécies passando longos períodos de estase com pouca mudança evolucionária (equilíbrio pontuado)?
Quais processos levam à especiação?
Há dois caminhos principais nos quais a macroevolução pode ocorrer. O primeiro caminho faz-se através da extrapolação do processo microevolucionário. Minúsculas microevoluções, durante tempo suficiente, adicionam-se e se acumulam em populações isoladas e eventualmente podem resultar em novas espécies. O segundo, é um caminho em que a macroevolução ocorre através de mudanças repentinas. Esta teoria, equilíbrio pontuado, proposta por Stephen Jay Gould, é baseada no fato de que há genes críticos (como o homeobox - hox) em todos os organismos vivos, e pequenas mudanças neles poderiam causar mudanças drásticas no organismo, resultando em uma nova espécie rapidamente.

Mutações únicas e pequenas são às vezes a diferença principal entre uma espécie e outra. Cientistas decobriram genes muito importantes como o homeobox, que regula o crescimento dos animais em seus estados embrionários. Tem-se conseguido criar novas espécies de moscas pela irradiação do gene homeobox, causando uma mutação radical no desenvolvimento dos segmentos do corpo. Pode crescer um tórax extra na mosca, ou produzir pernas a partir dos bulbos ópticos, devido apenas à alteração de um único par de bases. Propôs-se que as centopéias e os milípedes originaram-se de insetos precursores, mas seus genes homeobox mudaram e acabaram crescendo dúzias de segmentos do corpo ao invés de apenas um. Uma mudança bem pequena, e uma espécie inteira é formada.

Mutações no homeobox e em genes críticos, às vezes chamadas macromutações, causam a adição de segmentos no meio do corpo dos Arthropoda. Um grande problema encontra-se nas escalas de definição oferecidas pelas técnicas biológicas. O registro fóssil não pode guardar eventos que aconteceram em menos de um milhão de anos, o que permite mostrar especiações lentas que são resultado de mutações durante um longo tempo, mas que grava súbitos "pulos" nas espécies, que mais parecem o resultado de mutações nos genes críticos reguladores em umas poucas gerações. Macromutações são, provavelmente, a melhor explicação da Explosão Cambriana que ocorreu há 550 milhões de anos.

Alguns propositores do criacionismo aceitam que a microevolução ocorre no curto prazo, enquanto que a macroevolução, especificamente levando à especiação, é expressamente rejeitada por eles. A Microevolução pode ser facilmente demonstrada nos laboratórios para a satisfação da maioria dos observadores. Enquanto os eventos de especiação têm sido demonstrados em laboratório e no campo, diferenças realmente dramáticas entre espécies não ocorrem usualmente em escalas de tempo diretamente observáveis (e ocorrem demasiado rápido para o processo ser mostrado nos registros fósseis). Alguns criacionistas têm discutido que, uma vez que a macroevolução não pode ser confirmada por uma experiência controlada, ela não pode ser considerada como uma parte da teoria científica. Mas os evolucionistas, ao contrário da astronomia, geologia, arqueologia e outras ciências históricas, podem checar hipóteses através de experimentos naturais. Eles confirmam hipóteses investigando se elas se ajustam às evidências físicas e às observações e através da validação de previsões. Desta forma, a macroevolução é testável.

Críticos da idéia da evolução biológica dizem que as origens conhecidas da variação podem apenas esclarecer a variação entre espécies, e não conseguem esclarecer a variação entre largos grupos taxonômicos. Eles mantêm como opinião que a macroevolução, a mudança gradual de uma espécie para outra, é impossível. Alguns fundamentalistas cristãos sem a menor credencial científica oferecem o que acreditam serem as provas dessa impossibilidade. Até agora todas essas provas têm sido rejeitadas como defeituosas pela comunidade científica. Muitos cientistas críticos destas provas acusam os autores de fraudes deliberadas.

Críticos da evolução biológica (fundamentalistas religiosos que não conhecem e entendem a teoria) dizem que somente Deus, algumas vezes chamado de "Designer Inteligente", é responsável pela criação de espécies diferentes. Os cientistas consideram que as grandes brechas entre os grupos taxonômicos podem ser explicadas por fatores ecológicos/evolucionários, como extinção, afunilamentos populacionais, e o surgimento de nichos ecológicos desocupados. A Macroevolução é simplesmente a Microevolução durante um grande período de tempo. De acordo com a síntese moderna, não há necessidade de distinção entre tipos diferentes de evolução já que todos são causados pelos mesmos fatores.

Uma crítica comum ao modelo da Seleção Natural baseia-se na falta de uma transição suave entre espécies no registro fóssil. Mas a teoria do equilíbrio pontuado explica o motivo de formas transitórias serem às vezes perdidas. E não é a única explicação. Uma outra explicação mais prosaica diz que as formas transicionais são perdidas somente porque, por alguma razão geográfica, elas não se fossilizam. Considerando que a fossilização dos organismos é atualmente um evento incrivelmente raro e excepcional, essa é uma explicação provável. Argumentos comuns contra a evolução usualmente discutem "falta de elos". Na verdade, os cientistas descobriram milhões de fósseis que, todos juntos, preenchem uma bela e grande árvore evolucionária. É claro que há "elos perdidos". Seria ingênuo pensar que cada espécie viva deixou para trás fósseis bons e limpos e foram todos encontrados pelos cientistas.


[editar] Sobrevivência diferencial de características
A sobrevivência diferenciada de características que surgem na população significa que algumas características se tornarão mais frequentes enquanto outras podem ser perdidas. Geralmente, pensa-se que são dois os processos que contribuem para a sobrevivência de uma característica:

Seleção natural
Deriva genética

[editar] Seleção natural
Ver artigo principal: Seleção natural.
O Darwinismo, e as teorias que dele descendem , indica que a evolução biológica resulta da seleção natural. Visto que a seleção natural é tão importante para o Darwinismo e as teorias modernas da evolução, segue um sumário bem curto de seus principais pontos:


Alossauro.
Os organismos têm filhos que herdam genes de seus pais. Estes genes codificam características diferentes em um indivíduo. Geneticamente, um filho tem 50% do DNA de cada progenitor. Dependendo de como o genótipo é herdado, os fenótipos podem manifestar-se de formas diferentes. O genótipo é o código básico do gene, e o fenótipo é o que é expressado no indivíduo. Dois pais de olhos castanhos podem ser heterozigóticos para os alelos da cor dos olhos e podem acabar tendo um filho com o fenótipo de olhos azuis. Em português claro, as crianças são como a mãe e o pai, embora os mecanismos em que isto ocorre podem ser muito complicados.
Os organismos têm um sucesso reprodutivo baseado em suas características em um dado ambiente. Em português claro, é mais provável que animais (ou plantas) que são bons no que fazem sobrevivam e tenham filhos.
Consequentemente, ao longo do tempo, os tipos de organismos que têm características mais bem adaptadas ao seu ambiente tenderão a se tornar dominantes, enquanto organismos menos adaptados a seus ambientes tornar-se-ão extintos.
A seleção natural também providencia um mecanismo para que a espécie possa se sustentar ao longo do tempo. Desde que, a longo prazo, os ambientes sempre mudam, se sucessivas gerações não desenvolvem adaptações que permitam que elas sobrevivam e se reproduzam, as espécies simplesmente morrem, já que seus nichos biológicos morrem. Consequentemente, a vida pode persistir durante períodos extensos de tempo, na forma de espécies evoluindo. O papel central da seleção natural na teoria evolucionária criou uma forte conexão entre este campo e o estudo da ecologia.


[editar] Deriva Genética
Ver artigo principal: Deriva genética.
A deriva genética descreve as mudanças nas freqüências genéticas que não podem ser atribuídas a pressões seletivas, mas que são ao invés disso devidas a eventos que não se relacionam com características hereditárias. Isso é especialmente importante em pequenas populações acasaladoras, que simplesmente não podem ter prole o bastante para transmitir a mesma distribuição genética para a próxima geração. Tais flutuações na freqüência dos genes entre gerações sucessivas podem resultar em alguns genes desaparecendo da população. Duas populações separadas que começam com as mesmas freqüências dos genes podem, conseqüentemente, "derivar" pela flutuação aleatória em duas populações divergentes com conjuntos diferentes de genes (ex: os genes que estão presentes em uma foram perdidos em outra). Eventos esporádicos raros (explosões vulcânicas, impactos de meteoros, etc.) podem contribuir para a deriva genética alterando a freqüência dos genes fora de pressões seletivas "normais".

A seleção natural é frequentemente citada como uma explicação para o aparente projeto na natureza, de outro modo conhecida como adaptação. Entretanto Stephen Jay Gould criticou muitos cientistas pela invocação imprópria desta explicação, sugerindo que muitas explicações adaptáveis cheguem a pouco mais do que de "histórias Nem-mais-nem-menos" sem nenhuma evidência científica real. A deriva genética é uma explicação alternativa para a ocorrência de muitas características. Ela também pode ser usada para explicar aparentes mal-adaptações. A idéia que a deriva genética tem tido um efeito significativo é chamada neutralismo.


[editar] Evolução: a controvérsia cultural
Em alguns países, como por exemplo nos EUA, a questão da evolução biológica tem sido controversa entre leigos. Entre os cientistas, no entanto, existe um consenso de que a evolução é um facto, e o que se discute no meio científico hoje em dia são apenas pormenores. De acordo com a pesquisa de Gallup, cerca de metade da população dos EUA não acredita em qualquer tipo de evolução biológica.


[editar] Desenvolvimento das teorias evolutivas
À medida que a ciência vai descobrindo mais informação sobre as operações básicas da vida, tais como a genética e a biologia molecular, as teorias evolutivas vão mudando. A tendência geral tem sido a de não derrubar teorias bem suportadas, mas suplantá-las com outras teorias mais detalhadas e, portanto, mais complexas.

Enquanto que a transmutação era aceite por um bom número dos cientistas antes de 1859, foi a publicação de A Origem das Espécies, de Charles Darwin, que propôs o primeiro mecanismo com peso para explicar a persistência das mudanças evolucionárias: o seu mecanismo da selecção natural. A cronologia evolucionária explana os passos principais da evolução na Terra, tal como foram expostos pelos proponentes desta teoria.

Depois do surgimento da biologia molecular, ficou claro que um mecanismo principal para a variação dentro de uma população é a mutagênese do DNA. Uma componente essencial da teoria evolucionária é que durante o ciclo celular, o DNA é copiado de uma forma bastante, mas não inteiramente, fiel. Quando ocorrem estes raros erros de cópia, diz-se que eles introduzem mutações genéticas com três consequências gerais relativas ao ambiente corrente: boas, más ou neutras. Por definição, os indivíduos com mutações "boas" terão uma propensão mais forte a propagar-se, ao passo que os indivíduos com mutações "más" terão menores hipóteses de se reproduzirem com sucesso. Os que tiveram uma mutação "neutra", não terão nem vantagens nem desvantagens. Estas definições assumem que o ambiente permanece estável. Ao nível de um único gene, as variações descritas acima representam diferentes genes alelos. Depois de alterações ambientais, os alelos podem manter a sua classificação de bons, maus ou neutros, ou podem mudar para uma das outras categorias. Os indivíduos que possuíam alelos anteriormente classificados como neutros, podem agora ter alelos "bons", se incluirem mutações que favoreçam a adaptação. Uma vez que alelos neutros podem acumular-se na população sem consequências, durante o tempo em que o ambiente é estável, gera-se assim um reservatório considerável para a adaptabilidade.

Nas últimas décadas do século XX surgiram teorias sobre mecanismos alternativos de evolução, onde a cooperação em lugar da competição teria papel central. É o caso da evolução de organismos independentes em mitocôndrias, proposta por Lynn Margulis.


[editar] Programação evolutiva
O processo evolutivo tem sido recentemente utilizado no campo da Informática através da Programação Evolutiva que usa o mecanismo de transmissão e mutação dos genes como um técnica de optimização, e também por meio de Programação Genética que permite parametrizar um programa para encontrar uma solução ideal para um algoritmo com base apenas no seu objectivo.


[editar] Cientistas famosos no campo da evolução
Charles Darwin
Erasmus Darwin
Gregor Mendel
Alfred Russel Wallace
Theodosius Dobzhansky
Edward Osborne Wilson
Richard Dawkins
Stephen Jay Gould
Richard Lewontin
Ernst Mayr
Thomas Huxley
Jean-Baptiste Lamarck
Robert Trivers
John Maynard-Smith

[editar] Bibliografia
A Origem das Espécies de Charles Darwin
A Perigosa Idéia de Darwin de Daniel Dennett
O Gene Egoísta e O Relojeiro Cego de Richard Dawkins
Not in our Genes de Richard Lewontin, Steven Rose e Leon J. Kamin
O bico do tentilhão de Jonathan Weiner
O renascer da Natureza, de Rupert Sheldrake
O Livro de Ouro da Evolução de Carl Zimmer
Gênese da Vida
Ateus.net » Artigos/ensaios » Ciências
Autor: Jorge Araújo
Fonte: Departamento de Biologia da Universidade de Évora

Sumário
1.1. – Origem da vida1.1.1. – O que é a vida?1.1.2. – Geração espontânea1.1.3. – Panspermia1.1.4. – Perspectivas atuais: teoria evolucionista ou da geração espontânea gradual1.1.4.1. – O ambiente primitivo1.1.4.2. – As cinco etapas da biogênese1.2. – Primeiras etapas da evolução biológica1.3. – Cronologia das etapas da evolução

1.1 – Gênese da Vida
Resumo
Desde há muito, o homem tenta explicar a origem da vida. A teoria da geração espontânea formulada por Aristóteles, só no século XIX foi refutada. A panspermia, defendendo que a Terra teria sido colonizada por seres extraterrestres, não dá resposta à questão essencial. A partir da reconstituição do cenário ambiental que terá existido há 4 bilhões de anos, foi possível conceber um modelo evolucionista, tendo como etapa de partida a geração espontânea de moléculas orgânicas. Etapas seguintes teriam sido a polimerização das moléculas simples, a condensação espontânea dessas novas entidades químicas em micro-gotas individualizadas e detentoras de faculdades metabólicas (protobiontes) e, finalmente, a aquisição, por parte destes, da capacidade de reprodução.
Os primeiros seres vivos assemelhar-se-iam a bactérias: eram procariontes. Inicialmente eram exclusivamente heterotróficos e anaeróbios. Depois, surgiu a capacidade de utilização da energia solar para fotossintetizar moléculas orgânicas: a autotrofia. Com a fotossíntese, o teor de oxigênio livre subiu drasticamente, passando a atmosfera de redutora a oxidante.
Com o oxigênio livre, muitas espécies foram eliminadas, mas apareceu um novo catabolismo energético de rendimento mais elevado: a respiração e também se formou o escudo de ozônio, que protege a Terra dos UV de maior energia.

1.1. – Origem da vida
A compreensão da vida, na sua essência, evolução ou diversidade, implica que analisemos com algum cuidado o problema da sua origem.
A preocupação que nos assiste não é nem original, nem recente. Tem sido objeto de indagações incessantes, mobilizando o pensamento dos homens mais sábios de todas as civilizações e dando lugar a discursos de tipo mítico, com importantes reflexos nos planos sócio-cultural e religioso.

1.1.1. – O que é a vida?
Esta questão foi, é e continuará a ser objeto de reflexão, sem que alguém tenha sido capaz de enunciar uma definição incontroversa. A forma de tornear esta questão é procurar identificar as propriedades dos seres vivos. É-nos acessível, ao olharmos para nós ou para um campo de brócolis, encontrar algumas características que podemos considerar denominadores comuns: ambos, nós e os brócolis, possuímos a faculdade de nos reproduzirmos (criarmos réplicas); ambos, para sobrevivermos, desde o momento em que fomos gerados, necessitamos de captar do meio ambiente matéria e energia (que me seja perdoada a imprecisão de referir com termos diferentes a mesma realidade!) com vista à construção de edifícios moleculares altamente ordenados (proteínas, celulose, ácidos nucléicos, etc.); ambos, ao incorporarmos mais e mais desses edifícios moleculares, vamos crescendo; e durante todo este processo vamos rejeitando para o meio uma série de moléculas de que não necessitávamos, bem como alguma energia; sobre o fim da estória, não tenhamos dúvidas, tanto os brócolis como nós entraremos numa fase de senescência e não sobreviveremos para além de um certo limite temporal, isto é, morreremos.
Será que nos é lícito generalizar estas simples constatações a todos os seres vivos? O bom senso obriga-nos a ter algum cuidado. E um simples olhar para criaturas mais pequenas, para uma paramécia, por exemplo, confirma a pertinência das nossas cautelas: é que, a não ser que lhes suceda algum “contratempo”, as paramécias não morrem! Uma paramécia divide-se em duas e cada uma destas, por sua vez, em duas, e assim de seguida. Quem diz uma paramécia, diz uma bactéria, ou uma levedura, dessas que nos fazem levedar a massa do pão ou fermentar o sumo da uva. Conseqüentemente, deveremos ser levados a retirar a morte, como fenômeno biológico programado, da lista das características comuns a todos os seres vivos.
Mas ao pensarmos em nós, nos brócolis e na paramécia, há um atributo dos seres vivos que nos escapa à primeira vista: é o de que nem sempre foram iguais ao que hoje são. Há alguns milhares de anos, não muitos, aliás, nem os homens, nem os brócolis, eram como hoje os conhecemos. De então para cá, evoluíram: os Homo eram mais pequenos, tinham um volume craniano inferior, etc., e sabemos que derivam de populações de primatas com outras características (sofreram uma evolução, baseada na seleção natural). Os brócolis [Brassicae oleracea] sofreram igualmente uma evolução, mas aqueles que nós hoje cultivamos são o produto de uma seleção artificial, orientada pelo homem para valorizar os caules e as flores (melhoramento vegetal).
Então, poderemos afirmar, sem correr grandes riscos, que a vida é a propriedade dos seres vivos, e que estes apresentam determinadas características comuns:
a) São sistemas (termodinamicamente) abertos, pois recebem do exterior matéria e energia (sob diversas formas) e rejeitam matéria e a energia (sob outras formas) para o meio exterior;
b) São sistemas dotados da capacidade de transformação das moléculas captadas no exterior, noutras que lhes são próprias;
c) São sistemas moleculares complexos e tendencialmente ordenados (que contrariam localmente a 2.ª lei da termodinâmica);
d) Reproduzem-se, dando origem a réplicas semelhantes (não necessariamente iguais), dotadas de idênticas capacidades;
e) São sistemas que, em termos populacionais e não individuais, evoluem, isto é, mudam gradualmente de estrutura, adquirindo eventualmente novas funções.

1.1.2. – Geração espontânea
Aristóteles (381-322 a.C.) foi um dos filósofos da Antiguidade que mais se preocupou com a questão da natureza da vida e da sua origem. Coligiu informação oriunda dos mais importantes centros civilizacionais, da China, da Babilônia, da Índia, do Egito. Verificou-a com o seu próprio método e publicou uma vasta síntese do conhecimento da época. Aí foi formulada a primeira teoria científica da origem da vida, a teoria da geração espontânea. De acordo com esta teoria, existiriam dois princípios, um passivo, que é a matéria, e outro, ativo, que é a forma. Quando as condições são favoráveis, conjugar-se-iam, dando origem à vida. Assim se explicava como trapos sujos geravam ratos ou a carne putrefata, moscas. Esta teoria, longe de ser risível, assentava na observação atenta, com os meios e os saberes então disponíveis. Quem a poderia refutar se, ao fazer a experiência de expor carne limpa ao ar, visse, ao fim de um certo tempo, saírem vermes brancos da massa muscular (larvas de mosca)?
A teoria da geração espontânea foi retomada por doutores da Igreja, como Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, bem como por muitos outros ilustres pensadores, durante toda a Idade Média. Aceitaram-na homens como o filósofo René Descartes, o físico Isaac Newton e o naturalista William Harvey.
Entre os primeiros contestatários da “teoria oficial” merece referência o médico e naturalista florentino Francesco Redi (1626-1698). Redi demonstrou experimentalmente que as larvas só apareciam quando se deixava que as moscas pousassem na carne. Se tal fosse impedido, por interposição de uma gaze, as larvas não apareceriam.
Pela mesma época, o holandês Antoine van Leeuwenhoek (1632-1723) inventou o microscópio. Apesar de rudimentar, este aparelho permitiu ao seu inventor aceder à observação do “infinitamente pequeno” e pela primeira vez são descritos organismos inacessíveis à vista humana.
O aparecimento de microrganismos em meios nutritivos onde antes não estavam presentes foi interpretado pelos pensadores da época como mais uma prova da “geração espontânea”. Leeuwenhoek não partilhava estas idéias; apoiando-se em observações experimentais, procurou convencer, em vão, os espíritos da época de que os micróbios provinham de “sementes” presentes no ar ambiente.
A teoria da geração espontânea, na sua versão inicial, só foi refutada definitivamente no século XIX graças aos trabalhos de Louis Pasteur. Este médico francês, debruçando-se sobre uma doença que dizimava a criação do bicho-da-seda, demonstrou, experimentalmente e de forma irrefutável, que germes microscópicos pululam em toda a parte e que as “gerações espontâneas” de microrganismos resultavam, na realidade, da contaminação dos meios de cultura por germes vindos do exterior, isto é, que a vida não surge espontaneamente, mas tem origem em outras formas de vida preexistentes.

1.1.3. – Panspermia
Refutada a teoria da “geração espontânea”, recolocava-se de novo a questão fundamental, de saber qual a origem da primeira forma de vida.
Demonstrando-se que a vida provém sempre de outras formas de vida, o pensamento lógico levou à formulação de uma nova teoria, segundo a qual a Terra teria sido inseminada por organismos vindos de fora, de outros planetas, ou mesmo de outros sistemas solares, propagados por esporos e veiculados até a Terra por meteoritos ou por poeiras cósmicas. Conhecida por teoria da panspermia, foi proposta, nos finais do século XIX, por Kelvin e retomada, já no século XX, pelo químico sueco Svante Arrhénius.
A teoria da panspermia foi refutada com base na impossibilidade de sobrevivência dos microrganismos às condições de temperatura existentes no dealbar da história do Universo. Todavia, a teoria da panspermia tem vindo a ser reformulada e a receber novos apoios. Segundo Hoyle e Wickramasinghe, a vida teria surgido noutro local, nomeadamente nos núcleos dos cometas. A Terra teria sido inoculada de seguida, por ocasião dos choques ocorridos com diversos objetos celestes. Francas Circo e Lesei Orle vão mais longe e defendem que a Terra e provavelmente outros planetas possam ter sido colonizados por seres inteligentes, pertencentes a outros sistemas solares. Esta versão contemporânea é conhecida por panspermia dirigida e explicaria o fato de o molibdênio, elemento raro sobre o nosso planeta, ser essencial para o funcionamento de muitos enzimas chave do metabolismo dos seres vivos.
A teoria da panspermia tem, para os seus defensores, a vantagem de não ser refutável e alimentar a especulação intelectual e a ficção científica. Todavia, em relação à questão inicial, de saber concretamente como se gerou a vida, a teoria da panspermia apenas a “resolve” na Terra, deslocando a incógnita para algures no Universo. O problema inicial permanece intacto: como é que a vida apareceu na Terra, ou num qualquer outro planeta?

1.1.4. – Perspectivas atuais: teoria evolucionista ou da geração espontânea gradual
Não sendo possível conceber qualquer modelo teórico para a origem da vida fora da realidade que conhecemos, que é a da Terra, é neste contexto que a maioria dos cientistas procurou encontrar a resposta à questão.
A abordagem do problema não pode, por outro lado, ser desinserida da perspectiva evolucionista que Charles Darwin (1809-1882) nos legou. Sabendo que as espécies se formaram por evolução a partir de outras, eventualmente menos complexas, a lógica conduz-nos a focalizar a nossa atenção nas formas de vida mais simples e a colocar a questão fundamental a esse nível: como se formaram os microrganismos procariontes? Thomas Huxley terá sido um dos primeiros a esboçar a idéia ousada que consistia em ligar de forma contínua o não vivo ao vivo. Faltavam-lhe, todavia, elementos para prosseguir. Estas idéias foram retomadas, já em pleno século XX, por J. B. S. Haldane (1892-1964) e A. I. Oparin.
Estes dois cientistas, sem se comunicarem, formularam a hipótese de que a atmosfera primitiva era não só diferente, pela sua composição, da atual, mas, sobretudo, que não seria oxidante; o oxigênio, a existir, teria destruído qualquer formação pré-biótica. Nesta hipótese base, assenta a teoria evolucionista da origem da vida ou da geração espontânea gradual. Consiste, basicamente, em admitir que, de forma espontânea e gradual, em condições ambientais diferentes das que atualmente existem, entidades moleculares se terão combinado, dando primeiro origem a novas moléculas, que nós classificamos de orgânicas (porque intervêm na constituição dos organismos e só por eles são hoje sintetizadas, na natureza), e depois a moléculas mais complexas por justaposição das primeiras (os polímeros). Finalmente, estruturas moleculares complexas e constituindo entidades isoladas do meio, com capacidades metabólicas e de reprodução, sujeitas às leis da evolução (diversidade-seleção-evolução), terão estado na origem das primeiras células vivas.

1.1.4.1. – O ambiente primitivo
Sabe-se que a atmosfera da Terra e as condições ambientais que nela reinam hoje são completamente distintas daquelas que imperavam há cerca de 4,6 bilhões de anos, quando ocorreu a condensação do sistema solar a partir de uma nuvem de gases e poeiras.
As condições então reinantes, ainda que muito diferentes das atuais, satisfaziam, em princípio, os requisitos para o desenvolvimento de formas vivas. Em primeiro lugar, a Terra localizava-se próximo de uma fonte de energia, o Sol. Em segundo lugar, dos nove principais planetas em órbita solar, era a massa terrestre a que se não encontrava tão perto dele que os seus elementos constituintes lhe fossem arrebatados sob a forma de gases, ou liquefeitos em rocha fundida. Também não era tão grande a distância, que os seus gases congelassem, tal como atualmente sucede em Titã, a maior lua de Saturno. A água é líquida na Terra, mas não em Mercúrio, onde foi toda evaporada para o espaço, ou em Júpiter, onde ocorre sob a forma de gelo. Por fim, a Terra era um corpo suficientemente grande para conservar a atmosfera, possibilitando o ciclo fluido dos elementos, mas não tanto que a sua gravidade mantivesse uma atmosfera demasiado densa, impeditiva da passagem dos raios solares.
A origem da vida na Terra ou a sua inoculação por seres extraterrestres terá ocorrido no período entre 3,9 e 2,5 bilhões de anos, conhecido por período Arqueano. Com efeito, os registros fósseis mais recuados que se conhecem datam de há 3,5 bilhões de anos.
Qual seria a conformação da Terra e a composição da sua atmosfera, nesse período? Eis a primeira questão à qual importa responder, para se conhecer o cenário em que se terão desenrolado os fenômenos subjacentes ao aparecimento da vida.
A Terra estava ainda em fase de arrefecimento. A crosta terrestre era necessariamente frágil e os fenômenos de vulcanismo, freqüentes. Freqüente era também o bombardeamento por diversos corpos celestes, cometas e meteoritos. Com o arrefecimento da Terra, parte da água trazida à superfície pelas erupções vulcânicas e pela desgaseificação de minerais condensou-se e formou os mares primitivos (a hidrosfera). Outra parte, conjuntamente com os gases, foi conferindo à atmosfera uma composição diferente. A par do azoto (N3) e do vapor de água (H2O), o metano (CH4) e o dióxido de carbono (CO2) eram abundantes. Menos abundantes seriam o monóxido de carbono (CO), o amoníaco (NH3) e o sulfureto de hidrogênio (H2S). O oxigênio, tão importante na atmosfera atual, estava quase completamente ausente.

1.1.4.2. – As cinco etapas da biogênese
Foi neste contexto que se terá processado a biogênese, ou a formação da vida na Terra. É habitual considerar, neste processo, cinco etapas:
1) A formação de uma atmosfera gasosa contendo as substâncias elementares para a formação da matéria orgânica (já referida);
2) a síntese dos monômeros biológicos, como os aminoácidos, os açúcares ou as bases azotadas;
3) a polimerização destes monômeros e a formação das proteínas primitivas e das cadeias de ácidos nucléicos;
4) a individualização de micro-gotas com uma identidade física e rudimentares faculdades metabólicas;
5) o desenvolvimento de um mecanismo de reprodução que garantisse a transmissão aos descendentes das capacidades químicas e metabólicas das entidades parentais.

a) Síntese de monômeros
A formação de aminoácidos e nucleotídeos a partir de uma mistura de gases, redutora, com composição semelhante à da atmosfera primitiva, foi realizada experimentalmente, em 1952, por Harold Urey e Stanley Miller, recorrendo a descargas elétricas como fonte de energia. Com esta espetacular experiência, Urey e Miller demonstraram ser possível a síntese de moléculas orgânicas por via não biótica e consolidaram a hipótese chave de Oparin e Haldane.
Desde logo, transpondo para as condições primitivas da Terra, passou a ser verossímil o cenário da síntese abiótica de pequenas moléculas orgânicas na atmosfera, sob a ação das fontes de energia disponíveis, nomeadamente as descargas elétricas e as radiações ultravioletas mais energéticas que, devido à ausência total de camada de ozônio, atingiam a superfície terrestre. Essas moléculas ter-se-iam acumulado em águas marinhas ou lacustres, ficando protegidas de reações fotoquímicas posteriores e constituindo o caldo primordial, no entender de Haldane.
Sabe-se hoje que não terá sido essa a única fonte de moléculas orgânicas acumuladas. Também os cometas e os meteoritos que se esmagavam sobre a Terra transportavam consigo diversas moléculas orgânicas. Certos meteoritos, designados por condritos carbonados, contêm cerca de 3% do seu peso em carbono. Esse carbono encontra-se sob diversas formas, nomeadamente de aminoácidos, bases púricas e pirimídicas, e ácidos carboxílicos, o que prova que também fora da Terra são possíveis as sínteses de moléculas orgânicas.
b) Síntese de polímeros
A segunda etapa da biogênese é a síntese dos polímeros que intervêm na organização da vida, por justaposição de monômeros sintetizados anteriormente. Grosso modo, podemos distinguir três tipos de polímeros:
– Uns, formam-se por ligação topo a topo, de uma série de aminoácidos; são as proteínas, que intervêm quer na estrutura dos organismos, quer no seu metabolismo como catalisadores.
– Outros, resultam da justaposição alternada de fosfatos e açúcares, aos quais se adicionam bases azotadas; são os ácidos nucléicos. Possuem faculdades catalíticas e são susceptíveis de autoduplicação.
– Outros ainda, formam estruturas ramificadas por associação de pequenos açúcares (monossacarídeos ou oligossacarídeos); são os polissacarídeos.
AAA + A AAAA + H2O - Δ E
Síntese de polímeros
À luz da hipótese de Haldade, as reações de polimerização ocorreriam, no “caldo primordial”, em conseqüência de uma grande acumulação de monômeros. Esta hipótese está hoje afastada, pelo motivo de que não se poderia explicar como é que uma reação que liberta água (a polimerização) poderia ocorrer num ambiente com excesso de água. Sendo estas reações reversíveis, um excesso de água deslocaria o equilíbrio no sentido da hidrólise, em lugar da polimerização. Para mais, as reações de polimerização para se efetuarem necessitam de energia, o que não acontece com a hidrólise.
Existem duas maneiras de deslocar a reação para a direita: (i) concentrar os reagentes, retirando a água produto da reação; ou (ii) acoplando-a a outra reação, “doadora” de energia.
Há boas razões para supor que alguns minerais tenham desempenhado um papel decisivo na “deslocação para a direita” destas reações. Entre estes, merecem destaque os silicatos (argilas, micas, etc.), que são minerais com uma estrutura folheada e um elevado poder de adsorsão de moléculas. As argilas são referidas como “esponjas de moléculas”. No caulino, por exemplo, as camadas de silicatos distam entre si 0,71 nm, o que significa que um cubo de um centímetro de lado oferece uma superfície total de adsorsão de 2.800 m2. Estes minerais são conhecidos por apresentarem propriedades catalíticas e, como tal, são largamente empregues na indústria de síntese de compostos orgânicos.
Experimentalmente, Aharon Katchalsky demonstrou que um certo tipo de argilas promove a polimerização de cadeias polipeptídicas (análogas das proteínas) a partir de ésteres formados de aminoácidos e de adenosina monofosfato (adenilatos de aminoácidos) adsorvidos nas suas superfícies. Os adenilatos de aminoácidos são os precursores da síntese protéica em todos os organismos, pelo que é verossímil que mecanismos semelhantes tenham presidido a polimerização dos aminoácidos no período pré-biótico.
Poderá não ser, contudo, a única via possível para a síntese abiótica das proteínas. Sidney Fox mostrou que misturas secas de aminoácidos se polimerizam espontaneamente quando deixadas algumas horas a temperaturas da ordem de 130ºC. Chamou-lhes termoproteinóides. Em presença de polifosfatos e a temperaturas mais baixas, obtêm-se resultados comparáveis. Com base nos seus resultados experimentais, Fox formulou a hipótese de que os aminoácidos acumulados nos oceanos primitivos, porventura rejeitados sobre escórias vulcânicas, tenham sido polimerizados pelo calor. Retomadas posteriormente pelas águas, essas cadeias polipeptídicas poderão ter participado na organização dos primeiros protobiontes. É importante chamar a atenção para o fato de que, qualquer que seja o processo abiótico de polimerização, ele conduz necessariamente a uma ordenação aleatória de aminoácidos, contrariamente ao que se verifica nos seres vivos.
Quanto aos ácidos nucléicos, a sua síntese abiótica, laboratorial, é tecnicamente acessível, em condições térmicas moderadas (55ºC), sendo possível conceber, para eles, um cenário semelhante ao da polimerização dos aminoácidos sobre superfícies de minerais adsorventes. Mas a ordenação dos nucleotídeos será também aleatória.

c) A individualização de micro-gotas
Todos os organismos vivos são separados do meio em que vivem por uma barreira, que lhes confere a sua individualidade.
A formação de uma barreira individualizante terá sido obrigatoriamente um dos passos evolutivos em direção às primeiras formas de vida. É verossímil que essas entidades primitivas tenham tido o aspecto de micro-gotas.
Entidades semelhantes foram criadas em laboratório por Oparin e por Fox. Utilizando polímeros biológicos, proteinase e polissacarídeos, como a albumina e a goma arábica, Oparin mostrou que, espontaneamente, os polímeros em solução aquosa podem isolar-se do meio e formar coacervados, isto é, micro-gotas ricas em polímeros, que ficam em suspensão na água. Por seu turno, Fox provocou a formação de um grande número de pequenas micro-esferas, dissolvendo na água proteinóides de origem abiótica. Nem os coacervados de Oparin, nem as micro-esferas de Fox podem ser considerados como antepassados das células vivas. Os coacervados e as micro-esferas constituem contudo um excelente material experimental, que Oparin e Fox exploraram para simulação de reações metabólicas.
Uma das primeiras constatações de Oparin foi a de que os coacervados eram entidades instáveis e de que a forma de evitar a sua perda era a de lhes proporcionar uma espécie de metabolismo primitivo.
Nas suas experiências, Oparin tirou partido do fato de que, num sistema com duas fases, as substâncias cuja solubilidade é diferente, consoante a fase, se concentram preferencialmente numa ou noutra. Juntando uma fosforilase (enzima da polimerização da glicose) a uma solução de histona (proteína) e goma arábica (polissacarídeo), Oparin não só deu lugar a que se formassem coacervados, mas verificou ainda que a enzima se concentrou nestes últimos. Adicionando glicose-1-fosfato ao meio, constata-se que esta passa para o interior dos coacervados e é polimerizada de seguida, pela fosforilase, em amido. A energia necessária à reação provém da ligação fosfato da glicose-1-fosfato. O fosfato inorgânico libertado difunde para o exterior, como um dejeto.
Quando os coacervados se tornam grandes demais, espontaneamente dividem-se em coacervados filhos. Entre estes, aqueles que tiverem ficado com moléculas de fosforilase continuarão a poder polimerizar a glicose, a crescer e a dividir-se. Os outros não terão possibilidade de subsistir. Para que o fenômeno se perpetuasse como numa célula, só faltaria um sistema que sintetizasse a fosforilase, com aquela composição exata e nas quantidades necessárias!
Nos coacervados de Oparin, são os polissacarídeos que formam a barreira limitante e os agentes catalisadores são incorporados a posteriori. Nas micro-esferas de Fox, são os próprios proteinóides que asseguram a constituição da “membrana” e atuam como enzimas das reações, podendo catalisar diversas reações, nomeadamente a decomposição da glicose.
As experiências de Oparin e de Fox mostraram que:
1) a formação de emulsões de micro-gotas (coacervados ou micro-esferas) corresponde a uma tendência natural dos polímeros em solução;
2) os eventos que neles decorrem fundamentam-se nas leis da química física; e
3) a evolução de entidades tão simples, mas com características novas, como os protobiontes, pode ter-se baseado unicamente nas suas características físico-químicas, selecionadas exclusivamente em função da sua capacidade de sobrevivência.

d) Um mecanismo de replicação
Os protobiontes atrás referidos estão ainda muito longe dos seres vivos mais simples. Falta-lhes a capacidade de reprodução, isto é, o “plano de construção” que possa ser copiado e utilizado para fabricar outro micro-sistema idêntico ao primeiro. Este é na realidade o fosso que separa o protobionte, capaz de alguns atos metabólicos, de crescer e de se dividir, do eubionte, verdadeiro ser vivo, capaz de se reproduzir, gerando seres idênticos a si próprio, com as mesmas faculdades bioquímicas.
A grande dificuldade reside em compreender como se estabeleceu a correspondência proteína/ácido nucléico. Sabemos que em todos os organismos vivos atuais a seqüência de nucleotídeos de alguns ácidos nucléicos determina a seqüência dos aminoácidos na proteína, isto é, a sua estrutura primária. Mas também são proteínas (com uma estrutura primária definida) que são responsáveis pela catálise da síntese dos ácidos nucléicos, como ainda do estabelecimento das ligações peptídicas entre os diferentes aminoácidos.
Existem bons argumentos que sustentam a proposta de Gilberto, segundo a qual o RNA teria podido desempenhar a dupla função, de codificar a síntese de proteínas e de atuar cataliticamente ao nível da sua própria síntese. Dito de outra forma, a vida primitiva ter-se-ia baseado exclusivamente no RNA, sem o DNA nem enzimas interventoras na replicação dos ácidos nucléicos e na síntese protéica. O sistema que conhecemos atualmente, baseado no DNA e em enzimas protéicas, e que é comum a todos os seres vivos, teria surgido posteriormente, selecionado pelas vantagens que oferece para a propagação da vida.

1.2. – Primeiras etapas da evolução biológica
Em cerca de 1000 milhões de anos, ocorreu a evolução dos protobiontes até às formas mais simples de células, de tipo bacteriano. Este processo evolutivo esteve, naturalmente, sujeito às contingências físicas e químicas impostas pelo meio, mas com uma circunstância nova, que consiste no fato de o objeto da evolução, os seres vivos, serem eles próprios agentes de transformação do meio. Podemos distinguir, nos primórdios da evolução biológica, cinco etapas.

a) 1.ª etapa: Consumo direto de ATP
Sabemos que no mundo atual, somente os seres autotróficos são capazes de sintetizar de novo matéria orgânica. Todos os outros, os heterotróficos, exploram a matéria orgânica preexistente.
Não sendo autotróficos, os primeiros seres vivos exploraram diretamente o manancial de moléculas orgânicas formadas espontaneamente e acumuladas no “caldo primordial”, a fim de extraírem os materiais e a energia necessários para o seu metabolismo. O material energético terá sido essencialmente a adenosina trifosfato ou ATP. Trata-se de um nucleotídeo como muitos outros, com a propriedade, que lhe não é exclusiva, de libertar uma grande quantidade de energia quando se rompe uma ligação fosfato, transformando-se então em adenosina difosfato ou ADP.
ATP ADP + Pi + Δ E
Estrutura molecular e reação de fosforilação
Não há aparentemente uma boa razão que justifique ter sido a adenina, e não a guanina ou outra das bases azotadas, aquela cujo nucleotídeo trifosfatado passou a desempenhar o papel chave como molécula energética. Poderá encontrar-se uma explicação no fato de a adenina ser facilmente sintetizável a partir de cinco moléculas de ácido cianídrico, substância sem dúvida abundante. O fato é que a sua intervenção no metabolismo dos seres vivos é universal.
Os primeiros seres vivos ter-se-ão servido do ATP presente no meio e, uma vez extraída a energia da ligação fosfato, terão excretado o ADP.
O sucesso dos mecanismos de reprodução e o progressivo aperfeiçoamento terão conduzido a um aumento das populações melhor dotadas e, conseqüentemente, a maiores necessidades energéticas. O ATP abiótico presente no meio deixou de ser suficiente para satisfazer as necessidades. Os seres vivos ter-se-ão confrontado então com a primeira crise energética.

b) 2.ª etapa: Glicólise
A adaptação às novas condições de penúria de ATP abiótico consistiu na aquisição da capacidade de sintetizar ATP a partir de ADP e de outra fonte externa de energia. É possível que vários sistemas tenham sido testados, mas aquele que perdurou e é universal, recorre à glicose, um açúcar certamente muito abundante no “caldo primordial”. A glicose (uma hexose) é absorvida pela célula e oxidada em presença de moléculas aceitadoras de elétrons. Em conseqüência, é cindida em duas moléculas de ácido pirúvico (triose). A energia libertada, cerca de 33 calorias, é parcialmente recuperada e empregue na síntese de duas moléculas de ATP. É o processo catabólico anaeróbio da glicose, denominado glicólise, e que está na base das fermentações praticadas por muitos organismos inferiores (bactérias e leveduras).
C6H12O6 + 2ADP + Pi 2 C3H4O3 + 4H+ + 2ATP
Glicólise
Tal como sucedera antes, também o açúcar se deve ter esgotado, perante o sucesso do novo sistema metabólico e a multiplicação dos organismos. Os seres vivos ter-se-ão confrontado então com a segunda crise energética. A carência de açúcar constituiu assim um poderoso fator de pressão seletiva.

c) 3.ª etapa: Fotossíntese e autotrofia
Na impossibilidade de encontrar glicose no ambiente, sobreviveram os seres vivos que manifestavam a capacidade de síntese do açúcar (autotróficos), para, em seguida, o utilizarem na regeneração do ATP.
A síntese da glicose é um processo que implica não só fontes de carbono e de hidrogênio, como ainda energia. A solução foi encontrada pelos organismos que desenvolveram a capacidade de aproveitar a energia solar (fotossíntese). Dispunham para tal fim de pigmentos captadores de energia luminosa e utilizavam o dióxido de carbono como fonte de carbono e o sulfureto de hidrogênio (H2S), como fonte de hidrogênio.
6CO2 + 6H2S C6H12O6 + 6S2
Fotossíntese anaeróbia
A rejeição do enxofre (S2) na natureza, sendo sólido nas condições habituais, não causava qualquer perturbação para o ambiente. Estima-se que a fotossíntese consumidora de sulfureto de hidrogênio terá perdurado durante várias centenas de milhões de anos (de -3 bilhões a -2,7 bilhões de anos).
Existem hoje muitas bactérias fotossintetizantes anoxigênicas (que não podem viver em presença de oxigênio), como as bactérias verdes e as bactérias púrpura (ou roxas). Tanto num como no outro grupo, subsistem espécies sulfurosas.
Posteriormente surgiu uma outra modalidade de fotossíntese, consumidora não de sulfureto de hidrogênio, mas de água, molécula muito mais abundante na natureza. Como subproduto, os organismos passaram a libertar oxigênio na atmosfera. As cianobactérias atuais pertencem a este grupo.
6CO2 + 6H2O C6H12O6 + 6O2
Fotossíntese geradora de oxigênio
O oxigênio é, para os organismos anaeróbios, um tóxico poderoso, um gás corrosivo. Capta elétrons e dá origem aos chamados radicais livres, isto é, substâncias altamente reativas e de vida breve que causam danos aos compostos de carbono, de hidrogênio, de enxofre e de azoto, que estão na base da vida. A sua progressiva libertação na atmosfera provocou alterações brutais nas condições de vida. É provável que o seu efeito se não tenha feito sentir de imediato, pois o meio, sendo redutor, continha diversos elementos capazes de fixar o oxigênio, nomeadamente os sais de ferro, que se encontravam em estado ferroso (Fe++) nos mares primitivos. Quando se esgotou a capacidade de fixação do oxigênio, este pôde acumular-se na atmosfera, subindo o seu teor de 0,001% para cerca de 21%! A atmosfera transformou-se, assim, de redutora em oxidante (há cerca de 1,8 bilhões de anos).

d) 4.ª etapa: A respiração aeróbica
Todas as etapas de evolução metabólica até agora referidas aconteceram em seres que viviam dentro de água ou ao abrigo das radiações solares diretas, pois os raios ultravioletas de comprimento de onda curto são fortemente energéticos e poderosamente destrutivos para as formas de vida.
A existência de oxigênio livre na atmosfera e sobretudo dissolvido na água dos mares e oceanos veio, por sua vez, tornar inóspitos para muitos seres vivos, necessariamente anaeróbios, os ambientes marinhos até então colonizados. Algumas formas puderam sobreviver, mas apenas nos meios onde o oxigênio não penetrava.
Um outro tipo de metabolismo foi, entretanto, selecionado pela evolução, face às novas condições ambientais. Trata-se na realidade de uma extensão da glicólise que, em vez de parar no ácido pirúvico, se prolonga até a total cisão da molécula de glicose em seis moléculas de dióxido de carbono. A oxidação da glicose é completa e tem agora como aceitador final de elétrons o próprio oxigênio. Este novo processo, designado por respiração, fornecendo 673 calorias, o suficiente para regenerar 36 moléculas de ATP a partir de ADP, oferece um rendimento cerca de 18 vezes superior ao da glicólise.
Os organismos apetrechados para executarem este novo processo catabólico dispunham de uma dupla vantagem competitiva: não só obtinham muito mais energia a partir do mesmo “combustível”, a glicose, como podiam colonizar à vontade as água marinhas oxigenadas.

e) 5.ª etapa: A vida fora da água
Como foi referido, a vida fora de água corria sérios riscos de ser destruída pelos raios UV de alta energia. Logo que principiaram a existir quantidades significativas de oxigênio na atmosfera como produto secundário da fotossíntese, formou-se, na estratosfera, um escudo de ozônio (O3). Esta camada molecular é absorvente dos raios UV de maior energia, pelo que a superfície da Terra passou a ficar relativamente protegida desse perigo. Tal fato possibilitou, de seguida, a colonização dos meios terrestres por muitas espécies, mas terá provavelmente posto termo à síntese abiótica de compostos orgânicos.

1.3. – Cronologia das etapas da evolução
A evolução bioquímica que acabamos de descrever terá durado cerca de 3,5 bilhões de anos. No seu termo, estariam apurados os sistemas metabólicos essenciais, que ainda hoje se mantêm plenamente funcionais nas células das bactérias, dos protistas, dos fungos, das plantas e dos animais.
Principais etapas da evolução do início da vida
Etapas
BILHÕES
DE
ANOS
Atmos f.
anóxica

Atmos f.
oxigenada

Bact.
anaeróbicas

Bact.fotossin t.

Bact.
aeróbicas

Cianobactérias

Protistas

Invertebrados
Diversificação dos Organismos eucariontes e pluricelulares
0,5-















Diversificação dos Organismos eucariontes Unicelulares
1,0-
















1,5-















Atmosfera rica em Oxigênio: Fotossíntese aeróbia
2,0-















Fotossíntese anaeróbia
















Diversificação dos Organismos procariontes anaeróbios
2,5-















Origem das bactérias fotossintéticas.
3,0-















Evolução química até aos Primeiros eubiontes
3,5-















Formação da Terra
4,6-

teoria da evolução do homem


TEORIA DA EVOLUÇÃO
De onde viemos?
A pergunta que não quer calar.
Desde os tempos mais remotos indagamos sobre a origem dos seres vivos, incluindo nós mesmos, e durante todo esse tempo sempre tivemos nossas "respostas" na forma de fantasias, estórias fantásticas e recheadas de alegorias que foram transmitidas de geração após geração.
Por mais de 99% de seus quase 250 mil anos na Terra, o Ser Humano foi dominado pelo pensamento mitológico e suas lendas. Depois, há cerca de 2500 anos atrás surgiu a Filosofia, e a Razão tentou buscar essa resposta abrindo caminho para algo além dos mitos e crenças.
Mas essa Era de lucidez racional seria por 1000 anos obscurecida pelas sombras da Idade Média e seus dogmas de fé baseados na antiga mitologia judáico-cristã. No Oriente Médio, boa parte desta cultura racional sobreviveu disputando lugar com a crença na similar mitologia islâmica, e no Extremo Oriente, também desde há 25 séculos atrás, outro tipo de filosofia, mais mística, se espalhava, baseada no Hinduísmo, Taoísmo e Budismo.
E só há pouco mais de 250 anos, outra área do potencial humano amadureceu e se consolidou, a Ciência.
A Ciência é a fusão da Razão com a Experimentação. Do Pensamento com o Empirismo, e é tão eficiente que seus resultados práticos e materiais em menos de meio século foram muito mais marcantes do que as dezenas de milhares de anos de misticismo e magia.
Ela pode não ter as respostas para nossas indagações interiores, e com certeza não tem a chave da felicidade, mas ninguém pode negar que ela é muito eficaz em entender, explicar e controlar a natureza.
A Ciência também nos deu sua resposta para a grande pergunta sobre a origem da vida, e esta veio sob a forma da TEORIA DA EVOLUÇÃO.
Não é de se admirar que essa explicação só tenha surgido há tão pouco tempo. Primeiro por que não se muda rapidamente centenas de milhares de anos de pensamento mitológico só com 2500 de Filosofia ou 250 de Ciência, e depois porque essa questão realmente não é fácil de ser respondida.
É uma pergunta sobre algo que há muito aconteceu e que ninguém presenciou, sobre eventos e processos que se deram muito antes de qualquer tentativa de resposta mesmo mitológica. Algo que acontece na verdade há muitos milhões de anos.
Com nosso quadro histórico, podemos considerar normal que por volta de 1600 dC, após o surgimento da imprensa, a Ciência tenha tido dificuldades para se estabelecer enfrentando toda uma estrutura de repressão religiosa que até ainda hoje não foi totalmente vencida.
Foi nesse quadro de resistência, que um processo de elaboração de pensamento foi tomando corpo, o EVOLUCIONISMO, que tinha uma resposta diferente daquela referência que dominou toda a Idade Média, a Bíblia.
A idéia de que a Terra era o centro físico do Universo já fora derrubada, mas o impacto sobre a religião não fora tão grande pois a doutrina cristã não se apoia no Geocentrismo, ainda que ele esteja presente na Bíblia. (Para qualquer dúvida sobre se a Bíblia é ou não Geocentrista indico ESTE TEXTO)
Mas enfrentar o Mito da Criação? Algo do qual depende boa parte de toda a Teologia Cristã e suas diretrizes de comportamento? Foi algo muito mais complicado.
Não obstante o trabalho árduo de vários pesquisadores, cientistas e filósofos levou a uma mudança de pensamento, e o hoje a TEORIA DA EVOLUÇÃO é mais do que estabelecida como a mais precisa explicação para a diversidade da vida.
Mas afinal, o que é a Teoria da Evolução e o Evolucionismo?
"EVOLUÇÃO ESPONTÂNEA"
Apesar do que muitos pensam, o Evolucionismo não é produto de uma só pessoa, não é idéia de um ou dois cientistas. Ele é simplesmente o resultado inevitável de um processo de evolução científica.
A Ciência lida com fatos explicáveis e controláveis, previsíveis e reproduzíveis. Só pode aceitar explicações que se baseiem em fenômenos comprovados e observáveis na natureza.
NÃO EXISTE CRIAÇÃO!
Nunca ninguém jamais viu algo surgir do nada, ou uma transformação tão radical quanto um organismo complexo como o humano surgir do barro. Isso não existe na natureza. Portanto a explicação religiosa criacionista é inaceitável no pensamento científico.
Tudo o que vemos na natureza é resultado de processos progressivos, estruturas muito simples podem parecer "surgir" rapidamente, mas estruturas complexas só surgem aos poucos, construídas passo a passo por processos lentos.
Lenta e progressivamente os seres vivos nascem e crescem, uma semente se torna uma imensa árvore e um aglomerado de células menores que a cabeça de um alfinete se tornam grandes animais.
Deve-se entender o termo EVOLUÇÃO antes de tudo como transformação, mudança progressiva, lenta e gradual. E sendo assim a Evolução está em TUDO que existe. Desde o mundo físico até os processos sociais. Nada acontece sem ser resultado de estágios progressivos. Nem mesmo idéias surgem do nada.
A noção de Evolução começou a tomar corpo no pensamento humano a partir do momento que se passou a observar com mais cuidado os seres vivos. O surgimento das ciências Biológicas é o próprio surgimento do Evolucionismo.
NÃO EXISTE BIOLOGIA SEM EVOLUCIONISMO!
A Biologia, assim como a Geologia, Antropologia Física, Paleontologia e outras, só são possíveis como ciências numa estrutura evolucionista, sem a Teoria da Evolução todas elas perdem completamente sua base.
Mas antes de prosseguirmos, vale retroceder um pouco e observar como a observação da natureza foi feita ao longo da história humana.
Vamos seguir um raciocínio em etapas.
Se uma coisa existe, podemos pensar a princípio em duas possibilidades:
1 - ELA SEMPRE EXISTIU2 - ELA PASSOU A EXISTIRDurante muito tempo acreditou-se que o mundo e o Universo sempre haviam existido. Muitas religiões Panteístas não possuem cosmogêneses embora a natureza esteja em constante movimento. Também no Budismo o Universo existe sempre, e no Bhramanismo apesar de existir o surgimento e fim do Universo, o ciclo é infinito.
Alguns filósofos gregos também eram adeptos da existência ETERNA do mundo. Aristóteles foi um deles.
O Sábio Grego Aristóteles foi um dos homens mais brilhantes de todos os tempos. Ele fundamentou a Lógica, as Ciências Naturais, a Dialética e a Retórica. Muitos dos feitos de Aristóteles são sentidos até hoje, 2.300 anos depois. Ele também foi o primeiro pensador a se ocupar sistematicamente com os seres vivos.
Mas Aristóteles não era divino, ela nada tinha em que se basear, por isso muitas de suas conclusões não são mais válidas. Mesmo assim foi sem dúvida o primeiro Biólogo, examinou organismos, dissecou animais e observou o comportamento de vários tipos de seres vivos. Ele declarava que havia algo de maravilhoso em todas as formas vivas, das quais não devíamos ter um nojo infantil.
Mas por que hoje não aceitamos mais que as coisas sempre tenham existido?
Em parte pela religião. Os mitos Politeístas e Monoteístas sempre possuem uma origem das coisas, do Universo e dos seres vivos. São os Deuses ou um Deus que criam o mundo e o Ser Humano. Com o domínio dessas crenças e em especial do Cristianismo, a idéia de uma existência eterna foi abandonada, pois havia um relato de criação.
Mas a existência Eterna também não satisfaz a observação cuidadosa da realidade. Se prestarmos atenção, principalmente com os métodos que dispomos agora, veremos que tudo está em constante transformação. Nem montanhas são eternas, algumas coisas novas surgem, outras deixam de existir.
ETERNO é o que está fora do tempo! Que sempre existiu e sempre existirá, que não tem fim nem teve começo. Apesar de nossa experiência comum e diária nem sempre poder invalidar isso, a mente humana não consegue lidar bem com a idéia da Eternidade. Isso vai contra nossa vivência e intuição.
Nesse sentido as Cosmogêneses foram um avanço no pensamento humano, pois substituíram o Mito da Eternidade pela idéia da Existência Temporal.
Então se admitimos que uma coisa passou a existir, podemos pensar em dois pares de possibilidades:
1 - ELA SURGIU DO NADA 2 - ELA SURGIU DE ALGUMA OUTRA COISA
1 - ELA SURGIU REPENTINAMENTE 2 - ELA SURGIU PROGRESSIVAMENTEEm qualquer época a experiência humana pode constatar que "nada surge do NADA". Não se vêem coisas se materializando no Ar, o que mesmo assim não significaria que estariam vindo do Nada. Estamos acostumados a ver coisas surgindo de outras.
Mas então temos uma problemática questão. Se Tudo vem de alguma coisa, de onde veio a Coisa Primeira?
Se sabemos que uma Girafa nasce sempre de outra Girafa, de onde veio a Primeira Girafa?
Durante muito tempo acreditou-se na Geração Espontânea, suposta também por Aristóteles. Sabia-se que os animais se reproduziam, mas como explicar os primeiros destes animais? Simples, eles viriam de outras coisas.
Então pensava-se que num corpo em apodrecimento, surgiam moscas, nas areias de um pântano surgiam sapos e mesmo que em pelos de animais surgiam cobras. Isso explicava então como surgiram os primeiros exemplares de cada animal.
Nesse sentido a Teologia Cristã já era mais avançada, pois no primeiro Capítulo da Gênese Bíblica declara-se que cada espécie "reproduz-se conforme sua espécie". Mas sendo assim, como teriam surgido as primeiras espécies? Do NADA!
Porém essa surgimento do NADA só teria ocorrido num determinado momento do passado, na CRIAÇÃO, mediante o indiscutível poder de DEUS. E nunca mais. Então resolvia-se a questão das origens sem a necessidade de Geração Espontânea, ainda que esta não tenha sido esquecida.
A Teologia Bíblica é incompatível com a Geração Espontânea e a Igreja só não perseguiu os adeptos desta idéia com mais rigor por que ela não era muito preocupante apesar de estar arraigada no imaginário popular. Porém a Igreja apoiou todas as experiências que visavam desacreditar a Geração Espontânea.
Por isso inclusive o Criacionismo foi tão satisfatório durante mais de mil anos, ele explicava o mundo apelando para um mistério que pelo menos na época não tinha motivos para ser contestado.
Porém há um problema nessa idéia que a princípio passa desapercebido.
Se cada espécie reproduz-se segundo a sua espécie, por que elas não são exatamente iguais? Por que as vezes nascem animais diferentes de seus pais? Por que de um boi e de uma vaca malhados, as vezes nascem bezerros escuros ou mesmo brancos e listrados?
Na Bíblia, no Capítulo 30 da Gênese nos versículos de 32-43, fica clara a idéia de que tais características podem ser determinadas pela influência direta do ambiente, como colocar um rebanho perante um cenário listrado e sua prole nascer listrada.
Esse é só um exemplo de como a Bíblia e a Teologia Cristã normalmente não tem uma resposta para explicar por que em geral os descendentes não são idênticos aos genitores.
Mas esse não é o único problema, há também a questão do mito do Dilúvio Universal, que inviabiliza qualquer possibilidade de explicação razoável para o fato de haver tantas espécies diferentes espalhadas por todo o mundo. Esse problema pode ser visto neste TEXTO.
Somando-se isso ao crescente descrédito da Teologia Cristã e da Bíblia sobre assuntos científicos e históricos, cada vez mais evidenciados pelos avanços da ciência, pouco a pouco os cientistas ficavam menos satisfeitos com as explicações tradicionais.
Num ponto de vista que só aceita como válido fenômenos comuns na natureza, só resta considerar que:
UMA COISA SÓ SURGE DE ALGUMA OUTRA COISA, E PROGRESSIVAMENTE
Então, se sabemos que toda girafa nasce de outra girafa, mas que girafas não existiram sempre, de onde surgiu a primeira girafa?
De uma outra coisa, mas não radicalmente diferente, e sim muito parecida com uma girafa, ou seja, um outro animal parecido com a atual girafa, assim como antes deste tipo de animal havia um outro, e outro, o que mostra uma gradação progressiva.
Mas como isso poderia ter ocorrido? São muito raros os casos onde um ser vivo nasce significativamente diferente de sua própria espécie. De onde tiveram a idéia de que isso fosse possível?
Na realidade, na Grécia Antiga houveram também alguns pensadores que levaram sua filosofia nesse sentido, por meio de raciocínios simples como este. Porém suas idéias foram praticamente silenciadas pela imensa reputação de Aristóteles. Dessa forma a iminente desconfiança Evolucionista é tardia, e se deu principalmente após a idéia de se catalogar os seres vivos e categorizá-los em classes, já na Idade Moderna.
TAXONOMIA
Toda Ciência necessita de organização e método, e portanto deve classificar bem seus objetos de estudo. O próprio Aristóteles já fizera isso há 2.300 anos, embora em um campo de amostras muito limitado, se resumindo às espécies disponíveis nas próximidades da antiga Grécia. Já no século XIX, o mundo tinha sido quase totalmente explorado, todos os continentes eram conhecidos. A humanidade já tinha contato com as exóticas faunas e floras das Américas, África e Oceania, bastante diferentes das do velho mundo.
Os primeiros naturalistas passaram então a catalogar os seres vivos, num processo de classificação organizada que chamamos de TAXONOMIA.
Sabemos que classificar as coisas pode ser trabalhoso, podemos organizar uma livraria separando os livros por assunto, por ordem alfabética, por autor e etc. Um livro sobre Maomé pode ser colocado em História, Religião, Oriente Médio ou Grandes Personalidades. Se formos classificar os veículos, podemos agrupá-los em terrestres, aquáticos e aéreos. Então subagrupar os terrestres pelo número de rodas, pelo tamanho, pela aplicação, data de fabricação e etc.
Enfim há várias formas distintas de se organizar as coisas, e é difícil saber, quando não impossível, qual a forma mais apropriada.
Ao classificar os seres vivos, os naturalistas não demoraram a perceber algo curioso, todas as formas de classificação pareciam convergir para uma mesma tendência, que permitia agrupar as espécies numa árvore de seções e subseções que obedecia uma progressão notável.
Vejamos um exemplo simples, tentemos classificar apenas 9 animais: Aranha, Barata, Cobra, Gorila, Minhoca, Morcego, Peixe, Pombo, e Tigre.
Alguém poderia colocar a Cobra junto com a Minhoca, mas se observarmos de perto ela tem muito mais em comum com o Peixe, devido a um esqueleto, olhos, dentes, escamas e etc. Por isso os naturalistas agrupam seres com o maior número de características em comum.
Se dividíssemos nossos 9 animais em 3 grupos, parece ser óbvio que Aranha e Barata estariam no mesmo grupo, assim como Tigre e Gorila. Morcego e Pombo poderiam estar em outro grupo enquanto Peixe e Cobra em outro. A minhoca poderia ser colocada junto com a Aranha e a Barata, ou o Peixe e a Cobra.
Mas é claro que existem milhares de espécies, que nos permitem agrupamentos muito mais refinados, de modo que encontraremos um lugar bem mais apropriado para a Minhoca. Com isso acabamos por chegar a atual classificação de seres vivos que devemos admitir, e difícil de ser alterada.
Um Morcego tem muito em comum com o Pombo, por voar e ter sangue quente por exemplo, mas tem ainda mais em comum com o Rato: Pêlos, dentes, não põem ovos, tem membros bem mais parecidos e etc. Uma Minhoca tem mais em comum com uma Lagarta do que uma Cobra, que por sua vez tem mais em comum com uma Tartaruga.
São cuidados como esse que fazem com que a Aranha não esteja no grupo dos Polvos mas no dos Artrópodos, junto com a Barata, por ter exoesqueleto, e sub grupo dos Aracnídeos, junto com o Ácaro, por ter 8 pernas e uma cabeça/toráx, diferente das 6 pernas do subgrupo dos Insetos, que possuem cabeça separada do tórax, além de antenas, inexistentes nos Aracnídeos. Os Polvos por sua vez, mesmo tendo 8 membros como as Aranhas, são classificados como Moluscos, por não terem qualquer tipo de esqueleto, sobrevivendo apenas em meios densos como a água, tal qual a Lula e o Calamar.
A ÁRVORE DA VIDA
Por fim, o que os naturalistas perceberam é que os seres vivos, diferentes de instrumentos musicais, livros ou máquinas, possuem um modo de ser classificados que é muito mais claro e adequado que outros modos, eles obedecem a uma seção de agrupamentos muito evidente, que os separa em diversos grupos razoavelmente isolados, porém sutilmente interligados por alguns animais que parecem fazer uma conexão entre os grupos.
Logo organizaram as formas de vida num esquema ÁRVORE, muito usado para outras coisas a serem classificadas, mas que sempre sugere ramos e troncos comuns, tal como invenções derivadas de outras, ou estilos musicais que se desmembram de outros, porém com uma Peculiaridade ÚNICA!
Os ramos da Árvore dos seres vivos simplesmente não se cruzam! Diferente de estilos musicais e idiomas que se misturam, ou máquinas que mesmo após várias gerações de aperfeiçoamentos podem ser fundidas numa só, como um telefone com visor, ou um carro anfíbio.
Mas os Seres Vivos uma vez separados em ramos taxonômicos, esses ramos não mais se interceptam, e por isso só a Mitologia pode imaginar Cavalos com Asas de Pássaros, Homens com Corpo de Cavalos ou Mulheres com Cauda de Peixe, assim como só a intervenção humana, por meio da engenharia genética, poderia produzir um Rato com uma Orelha Humana.
Uma vez na árvore, ficou difícil não perceber uma progressão, ficava evidente uma série de troncos comuns que surgiam de um tronco único, o que sugeria ancestrais em comun que iam dando origem a descendentes, tal como uma árvore genealógica humana.
Porém se traçarmos nossa árvore genealógica, veremos que ela se cruza com outras árvores, se misturando, o que não acontece com as espécies animais. Aliás a definição de espécie é justamente essa, de uma forma simplificada: "Um grupo de seres vivos que pode cruzar entre si". Por isso uma Onça Preta e uma Onça Pintada são espécies distintas, apesar de serem bem mais parecidas entre si do que um Puddle e um Dogue Alemão, que são raças diferentes de uma mesma espécie.
Apesar de tudo isso havia alguns problemas com essa idéia de seres vivos surgindo progressivamente de ancestrais comuns. Primeiro a ausência de algumas espécies que deveriam ser intermediárias entre outras, que foram chamadas de Elos Perdidos, segundo, a falta de conhecimento de um mecanismo convincente para explicar como ocorreria essa transformação.
Jean-Baptiste Lamarck
A primeira explicação razoável que foi proposta para explicar essa Evolução é conhecida como LAMARCKISMO
Lamarck foi um dos primeiros biólogos contemporâneos, além de ter sido seminarista e militar. A partir de 1801 ele passou a publicar vários livros na qual combatia o FIXISMO, doutrina na qual as espécies de seres vivos são imutáveis, e o CATASTROFISMO, que afirmava que grandes e sucessivas catastrofes, o que incluia o dilúvio de Noé, eram responsáveis por várias das características ambientais assim como do desaparecimento de diversas espécies.
Sendo o primeiro grande Evolucionista da história, ele teve a árdua tarefa de promover uma explicação para como ocorrem as mudanças de espécies, desafiando a crença tradicional.
Naquela época a Geração Espontânea não era mais aceita por qualquer letrado, o italiano Francesco Redi, e o francês Loius Pasteur ajudaram a derrubar por completo a crença nessa hipótese. Muitos já esboçavam pensamentos evolucionistas misturados com hipóteses catastrofistas e mesmo criações divinas sucessivas pequenas e locais, ao quais Lamarck rejeitava, propondo basicamente duas afirmações:
1 - A influência do Ambiente produz mudanças físicas no indivíduo de uma espécie. 2 - Esse indivíduo transmite as modificações para seus descendentes, que nascem adaptados.
Voltando ao exemplo da Girafa, segundo Lamarck, um grupo de animais teria se instalado num ambiente onde as melhores opções de alimento estavam no alto das árvores. O hábito fazia com que os animais cada vez mais esticassem o pescoço para alcançar as folhas mais altas. Com o tempo, o pescoço tenderia a se alongar ainda que imperceptivelmente, e os descendentes desses animais já nasceriam com pescoços ligeiramente mais longos, e assim por diante, geração após geração, até que houvesse uma estabilidade, resultando no animal que conhecemos como Girafa.
Para Lamarck, o uso repetido do orgão causaria um desenvolvimento, e seu desuso naturalmente uma atrofia, o que explicava o desaparecimento dos órgãos que não mais tinham utilidade para a nova espécie.
Essa teoria logo se popularizou, despertando severas reações de uma sociedade Criacionista. Em especial de um naturalista protestante fortemente adepto do fixismo catastrofista e apologista bíblico, Georges Leopold Cuvier, autor respeitado de um denso e valioso trabalho que inclui principalmente anatomia.
A firmeza de Lamarck perante a ira dos conservadores resultaria futuramente em seu obscurecimento, e acabaria morrendo na miséria, em 1829. Mas sua teoria só viria a ser parcialmente derrubada décadas mais tarde em especial pelos experimentos de August Weismann, que cortando caudas de várias gerações de ratos de laboratório, concluiu que nem por isso os descendentes nasciam sem caudas.
A teoria de Lamarck era perfeitamente racional, mas para a Ciência a Razão não basta, pois como já vimos ela caminha com as pernas do Racionalismo e do Empirismo, é preciso o apoio dos fatos empíricos os quais nunca confirmaram a segunda proposição da teoria Lamarckista.
Porém o primeiro postulado de Lamarck, de que o ambiente influencia as espécies, se manteve, servindo de apoio à nova teoria que viria a surgir.
É curioso que hoje em dia, após mais de um século e meio de descobertas, a teoria de Lamarck ainda esteja fortemente viva na memória popular, pois a maioria das pessoas que pensam saber algo sobre Evolução ainda raciocina em termos Lamarckistas!
DARWIN
CHARLES ROBERT DARWIN não só não foi o primeiro evolucionista como muitos pensam, como sequer foi o primeiro Darwin evolucionista. Seu avô ERASMUS DARWIN, médico e filósofo, já havia publicado em 1795 uma obra onde apresentava idéias evolucionistas precursoras de Lamarck. "Mal de família", diriam os Criacionistas.
Charles Darwin nasceu em 1809 e desde cedo se interessou por história natural. Cursou sem concluir teologia e medicina, mas preferiu se ocupar de botânica, zoologia e geologia. Recebeu várias influências, entre elas do botânico John Stevens Henslow e do geólogo Adam Sedgwick.
Naquela época a Geologia também já estava em pleno desenvolvimento, através de obras como a de Charles Lyell que apesar de ainda acreditar na imutabilidade das espécies, já propunha uma Terra em graduais e lentas mudanças muito mais antiga do que o mundo de pouco mais de 6000 anos, baseado na simples contagem de gerações de lendários personagens bíblicos, que ficava cada vez mais insustentável.
Após se formar em Humanidades, em 1831, Darwin partiu a bordo do Beagle, ao lado de outros personagens incluindo o lendário cientista e aventureiro Richard Francis Burton, na condição de naturalista, para uma viagem de 5 anos que tinha como missão o reconhecimento de diversas partes do mundo, incluindo as famosas ilhas Galápagos, o Brasil, Cabo Verde e Oceania. Coletando inúmeras informações e examinando diretamente vastas condições ambientais e espécies diferenciadas, Darwin começou a perceber que a Estabilidade das Espécies, o paradigma predominante da época, não explicava bem uma série de fatos que constatou.
Após tomar contato com as idéias de Lamarck e posteriormente as de Thomas Malthus, sobre a dinâmica de crescimento populacional, Darwin finalmente concebeu o mecanismo evolutivo que seria a essência de toda a sua teoria. A Seleção Natural.
Mas darwin também não foi o único a propor tal mecanismo, na verdade esta idéia tem como co-autor Alfred Russel Wallace, que poderia hoje ser o alvo do ódio dos criacionistas caso Darwin não tivesse entrado em cena. Wallace também fizera uma viagem ao redor do mundo, tendo estado inclusive na Amazônia, e lera os mesmos livros que Darwin. Ambos foram reconhecidos como autores da Teoria, porém o livro de Darwin, A Origem das Espécies, foi muito mais impactante, e ele acabou levando a maior parte da fama, assim como sofrendo a maior parte da repressão do pensamento criacionista dominante.
Wallace e vários outros estudiosos, incluindo Lyell, o botânico Joseph Hooker, o entomologista Henry Walter Bates, o naturalista Fritz Müller e o morfologista Thomas Henry Huxley, se tornaram grandes admiradores e contribuidores de Darwin e se uniram na disseminação de suas idéias. Este último inclusive ficou conhecido como o "buldogue de Darwin", por defender ardorosamente as idéias de seu amigo em debates aos quais, Darwin, de temperamento tímido e discreto, não era muito dado.
Portanto, a Teoria da Evolução pela Seleção Natural, apesar de ser chamada de Darwinismo, é o resultado de um processo lento de evolução científica através de vários autores, e mesmo que Darwin nunca tivesse existido, cedo ou tarde ela surgiria no meio científico, mesmo porque a simples estruturação da Biologia torna inevitável a constatação do fenômemo evolutivo, que requer uma explicação.
A LEI DA SELVA
A ORIGEM DAS ESPÉCIES por meio da Seleção NaturalouA Luta pela Existência na Natureza
A mais famosa obra de Darwin é até hoje considerada como a publicação mais revolucionária de todos os tempos. Seu impacto na sociedade foi avassalador e até hoje inúmeros religiosos não se conformam com o fato da interpretação literal da Gênese Bíblica ter sido aniquilada. Muito apologistas bíblicos a consideram como: "O mais duro golpe contra a Palavra de Deus".
Darwin concordava com os princípios elaborados por Lamarck, mas percebeu serem eles insuficientes para explicar a variadade de espécies existentes e suas condições de vida.
Voltemos ao exemplo da Girafa. Segundo Darwin, não foi a ação prolongada em esticar o pescoço para colher as folhas mais altas, que fez com que certos animais se tornassem girafas. Imaginemos que alguns tipos de animais foram habitar determinada região onde as melhores opções de alimentos eram as folhas altas. Destes animais, alguns tinham pescoço um pouco maior, e colhiam as folhas com mais facilitade, e outros um pescoço um pouco menor, tendo mais dificuldade em se alimentar. Assim, com o tempo, os animais de pescoço comprido foram favorecidos pelo ambiente, isto é, foram selecionados naturalmente, e os animais de pescoço menor acabaram por ser extintos, ou se mudaram para outro local com condições que lhes fossem mais favoráveis.
A isso damos o nome de SELEÇÃO NATURAL. Uma Lei que determina que só os mais adaptados ao ambiente poderão sobreviver, se reproduzir e assim transmitir suas características adaptativas ao seus descendentes. Portanto, os descendentes não tem o pescoço maior apenas porque o pescoço de seus pais se desenvolveu, mas sim por que seus pescoços já eram avantajados, e por isso eles sobreviveram e se reproduziram.
Já havia então variações no comprimento do pescoço daqueles animais "pré-girafas", que ocorrem normalmente em qualquer espécie, pois os indivíduos nunca são iguais, mas sim possuem pequenas diferenças entre si. Após um período muito grande de tempo, dezenas ou centenas de gerações, a Seleção Natural, baseada nas exigências do ambiente, vai direcionando as variações num certo sentido.
Outra forma de imaginar isso é pensarmos sobre a crença comum de que adolescentes que pratiquem Basquete ou Vôlei fiquem mais altos que a média, o que é uma ilusão. Ao notar que jovens jogadores de um destes esportes são altos, muitos pensam que foi a prática que os tornou maiores, mas na verdade o tamanho, ainda que seja influenciado pela alimentação e outros fatores, é muito mais determinado geneticamente.
Dessa forma não foi a atividade que tornou os jovens mais altos, mas sim o fato de que aqueles que não cresceram o suficiente não continuarem a praticar o esporte, se retiraram ou foram cortados pelos treinadores, num processo semelhante à Seleção Natural.
É diferente por exemplo dos que pratiquem musculação, que de fato ficam mais fortes, porém esse desenvolvimento muscular não é transmitido para os descendentes, ao passo que a altura avantajada sim.
Já no mundo selvagem a Seleção Natural é ainda mais determinante, pois trata-se da luta pela sobrevivência, os mais adaptados, os mais fortes, prosperam. É a Lei da Selva. O número de descendentes gerados é sempre maior que o número dos que conseguem chegar a idade adulta e se reproduzir, por isso apenas os portadores de certas qualidades, que lhes dêem vantagem no ambiente em que vivem, trasmitem as mesmas, que nas gerações seguintes já apresentarão outros tipos de variações e que serão novamente selecionadas.
É evidente que para que esse processo produza espécies muito diferentes será necessário um período de tempo muito extenso, por isso Darwin só se convenceu plenamente de sua própria Teoria quando finalmente novas pesquisas geológicas forneceram uma idade de bilhões de anos para a Terra.
Apesar de sua teoria conseguir explicar com muita eficiência uma série de fenômenos populacionais, ainda que o volume de dados levantado por ele tenha sido muito mais convicente do que a idéia de Seleção Natural em si, Darwin ainda acreditava na transmissão dos caracteres adquiridos ao longo da vida para as próximas gerações, e também não conhecia ainda o trabalho de outro ilustre pesquisador que viria posteriormente a acrescentar um dos últimos ingredientes para que a Teoria da Evolução se tornasse definitivamente irrebatível.
VARIABILIDADE GENÉTICA
Uma vez que percebemos claramente que os indivíduos de uma mesma espécie não são idênticos entre si, podemos distinguir duas diferenciações principais. As Adquiridas e as Herdadas.
As que são adquiridas ao longo da vida são evidentes, porém as Herdadas nem sempre obedecem às nossas expectativas, e só passaram a ser melhor compreendidas graças ao trabalho pioneiro de um monge austríaco chamado Gregor Mendel.
Mendel nasceu em 1822 e faleceu em 1884, 16 anos antes de suas pesquisas serem reconhecidas. Formado em Ciências Naturais, realizando nos jardins de um convento durante 10 anos, cruzamentos com exemplares amarelos e verdes de ervilhas por várias gerações, ele descobriu as Leis da Hereditariedade, também conhecidas como Leis de Mendel, que explicavam porque uma característica pode aparecer em um indivíduo mesmo que seus "pais" não a apresentem, embora tenham sido apresentada em gerações anteriores.
Com a confirmação de suas experiências, reproduzidas e publicadas em 1900 por Erich Tschermak e Hugo de Vries o mundo descobriu as regras da antes inexplicável descontinuidade de características herdadas através de gerações, combinando os caracteres Dominantes e Recessivos, hoje chamados de Genes.
Foi De Vries que por sua vez propôs também o fenômeno da MUTAÇÃO, que é uma característica não adquirida, mas também não herdada, constituindo uma anomalia ocorrida no processo de reprodução. Darwin também considerava hipótese semelhante, mas não lhe dava muita atenção por saber que a Seleção Natural eliminaria qualquer Mutação que na grande maioria das vezes traz desvantagens ao indivíduo, dificultando sua sobrevivência e perpetuação.
Com isso, ficava clara a origem das variações nas características de indivíduos de uma mesma espécie, a Variação Genética fornece a Matéria Prima sobre a qual trabalha a Seleção Natural, e ao contrário do que muitos pensam, essa Variação comum, também chamada de Deriva Genética domina a quase totalidade da diversificação de características que irão determinar as vantagens no ambiente, e não as Mutações, que geralmente não são aproveitáveis, sendo eliminadas pela Seleção Natural, embora teoricamente possam também, em raros casos, trazer vantagens.
O NEODARWINISMO
Pouco após a morte de Darwin, diversos outros cientistas trabalharam para aperfeiçoar sua teoria, incorporando as descobertas sobre a Variabilidade Genética e eliminando definitivamente o segundo postulado de Lamarck, que pregava a transmissão das características adquiridas, devido a absoluta falta de evidências que a suportassem.
Apenas o material genético é transmitido, com todas as suas variações e ocasionais mutações, fornecendo toda a diversificação necessária para a ação da Seleção Natural. Surgiu então a Teoria de Evolução que permanece praticamente inalterada por mais de um século, que chamamos de NEODARWINISMO, ou mais simplificadamente apenas Darwinismo, ainda que diferente da Teoria proposta por Charles Darwin.
Incorporando as leis da génetica de Mendell e a idéia das mutações, a teoria evolutiva contemporânea estabelece que a Varibilidade Genética é causada pela Recombinação Gênica, que é a variação natural ocorrida com o cruzamento das informações genéticas dos genitores do indivíduo, 50% do pai e 50% da mãe, e que nunca ocorrem da mesma forma em descendentes diferentes, e em menor grau também devido as Mutações.
Na maioria das vezes as mutações são insignificantes, quando dizemos que um indivíduo é mutante, é porque sua mutação é suficientemente grande para resultar em alguma diferença. Como a maioria das espécies já está adaptada ao seu ambiente, a maioria das mutações significativas acabam por ser desvantajosas, e são eliminadas pela Seleção Natural.
Porém muitas mutações costumam ter caráter recessivo, permanecendo ocultas dado aos cruzamentos comuns ocorrerem de modo a acobertá-las. Entretanto se há alguma mudança drástica no ambiente, a Seleção Natural irá priorizar outros tipos de características nos indivíduos, e nesse momento muitas mutações recessivas podem terminar por se manifestar, assim como a ocorrência das mesmas pode aumentar, ampliando ainda mais o leque de variações sobre o qual a Seleção Natural pode trabalhar.
A EVIDÊNCIA FÓSSIL
Já desde antes de Darwin registros fósseis vinham sendo descobertos, e na verdade, devem ter sido achados em longo de toda a história, porém a falta de um viés científico em geral os levava a serem desprezados ou mau considerados. Na China Antiga por exemplo, muitos achavam que fósseis de dinossaros eram evidentemente esqueletos de dragões, que são animais sagrados para os chineses.
Mais uma vez foi o desenvolvimento do naturalismo que resultou numa maior atenção aos registros fósseis, além o aperfeiçoamento das escavações, da procura mais atenta e objetiva e das cada vez mais frequentes descobertas de sítios ricos em amostras. Assim, os primeiros evolucionistas logo perceberam os fósseis como mais indícios da evolução.
Assim que a Teoria da Evolução darwiniana se popularizou, foi gerada uma grande expectativa com a futura descoberta de "novos" fósseis, que não demorou a ser satisfeita. Em cerca de um século e meio, foram achados e catalogados tantos fósseis que se tornou impossível negar a existência dos dinossauros e outras espécies de animais extintos.
Para evidenciar a evolução porém, os fósseis tiveram que ser analisados e encaixados numa provável linha evolutiva histórica. A datação da idade dos fósseis, realizada por diversos parâmetros, ajudou a classificá-los de acordo com sua estimada época, e pouco a pouco a história natural das espécies foi sendo desvendada, confirmando e esclarecendo cada vez mais o processo evolutivo.
A Paleontologia é o ramo da ciência encarregado de pesquisar os fósseis, e hoje em dia acumulou um conhecimento sobre a história natural dos seres vivos que os primeiros evolucionistas jamais sonharam.
A evidência fóssil então se tornou uma das maiores evidências em favor da evolução.
A DESCOBERTA DO DNA
Na década de 50 do século XX, diversos cientistas estavam em busca de esclarecer o meio sobre o qual o material genético se transmitia. Conhecia-se o conceito, mas não exatamente qual era o mecanismo. O Neodarwinismo já previa que tal estrutura de replicação deveria ser achada, e trabalhando sobre essa premissa, os famosos cientistas James D. Watson e Francis H.C. Crick formularam o modelo molecular do ADN (Ácido Desoxirribonucléico), ou DNA em Inglês, que permanece até hoje.
Não foi um trabalho isolado. Caso Watson e Crick não tivessem sido bem sucedidos, inevitavelmente outros cientistas teriam. Desde então nossos conhecimentos sobre os meios de transmissão de caracteres genéticos aumentaram imensamente, surgindo as terapias genéticas, a identificação por DNA que inclui os testes de paternidade, a prevenção de doenças hereditárias e a comparação genética das espécies.
Todos os seres vivos contém um código genético baseado na estrutura do DNA, que é fundamentalmente a mesma desde as bactérias até o Ser Humano, constituindo forte evidência de parentesco evolutivo, que não seria necessária caso os seres vivos tivessem sido criados isoladamente.
Com a leitura do DNA, pode-se constatar e medir a distância evolutiva que separa as diferentes classes de seres vivos. Pôde-se confirmar que os animais mais distantes geograficamente tem estruturas genéticas mais diferentes. O rastreamento genético viria a confirmar e reforçar a explicação evolucionista para a distribuição das espécies no mundo.
Com a leitura de DNA residual, que já permite a identificação até mesmo em materiais "mortos", é possível analisar os elos de parentesco entre as espécies atuais, técnica que vem sendo refinada a cada dia. E no futuro, como um dos resultados do Projeto GENOMA que mapeou totalmente o código genético humano, será possível afirmar com precisão onde e quando se encaixam cada evidência fóssil na linha evolutiva.
MUTAÇÃO E NEUTRALIDADE
Apesar da Seleção Natural estar solidamente estabelecida, ao longo do século XX duas abordagens envolvendo a Deriva Genética foram desenvolvidas.
De um lado o MUTACIONISMO propunha que as Mutações eram as grandes responsáveis pela maior parte da Variabilidade Genética, e que em alguns casos, poderiam até mesmo dar origem a novas espécies com pouca ou nenhuma participação da Seleção Natural.
Já o NEUTRALISMO advogava que as mutações tendiam a ser em maioria Neutras, e que a variabilidade genética se devia mais à Recombinação, conferindo maior ou menor importância à Seleção Natural.
Nenhum dos dois porém negava a importância de qualquer dos fatores envolvidos, Mutação, Recombinação e Seleção, e sim dava maior ênfase a um ou outro.
Embora o Mutacionismo tenha tido larga influência durante cerca de metade do Século XX, após a década de 70 passou a haver uma maior aceitação do Neutralismo no que se refere à mutações. Restando em parte ainda a questão do nível de relevância da Seleção Natural para a criação de novas espécies.
Tem sido cada vez mais aceito recentemente que a Recombinação não só é muito mais determinante do que se supunha, mas que pode neutralizar mutações nocivas e enfatizar mutações benéficas, acelerando o processo evolutivo bem além do que se esperaria com meras mutações aleatórias.
Com isso, parece ser então a Recombinação que permite o acúmulo qualitativo de variações utéis ao organismo, que podem permanecer neutros por períodos estáveis, mas se relevar importantes em períodos onde mudanças no ambiente exigirem novas adaptações no organismos.
O EQUILÍBRIO PONTUADO
As variações ambientais podem ser causadas por vários fatores, terremotos, mudanças climáticas, surgimento de vulcões, espécies que se reproduzem demais e eliminam outras, ou espécies que se extinguem e prejudicam a cadeia alimentar. Ao longo da história geológica da Terra muitas mudanças drásticas ocorreram, como impactos devastadores de meteoros e glaciações.
É exatamente nestas condições que as grandes transformações ocorrem nas espécies, pois a Seleção Natural muda as regras e se torna mais rigorosa, e qualquer pequena particularidade pode fazer toda a diferença. Nestas situações também as mutações ocorrem com maior frequência, ou são recombinadas com maior eficiência.
O processo evolutivo portanto não é linear, mas sim irregular, com períodos de maior ou menor desenvolvimento. A dimensão da diferença entre estes períodos porém está em ampla discussão no meio científico atual.
Os Gradualistas, apesar de admitirem a irregularidade do processo evolutivo, preferem entender a evolução como um processo mais estável, ao passo que os Pontuacionistas, baseados na hipótese do Equilíbrio Pontuado do grande cientista evolucionista Stephen J. Gould, enfatizam uma maior instabilidade na história evolutiva, com grandes períodos de estagnação e breves períodos de aceleração evolutiva.
O Equilíbrio Pontuado propõe que as espécies permanecem estáveis por vastos períodos de tempo até que repentinamente as condições ambientais mudem. Neste momento, a Seleção Natural passa a beneficiar outros fatores que antes seriam inócuos ou desvantajosos, forçando a evolução. Como esses períodos de mudança são breves, logo a espécie se estabiliza novamente, para um novo período de nova estagnação.
Essa hipótese porém não é exatamente uma novidade, mas apenas uma ênfase em aspectos já previstos desde Darwin, uma vez que é óbvio que uma espécie bem adaptada ao seu ambiente dificilmente evolui, pois qualquer mudança significativa num indivíduo difícilmente resultaria em vantagens, e seria eliminada pela Seleção Natural.
Um crítico dessa hipótese é Richard Dawkins, que costuma ver o Pontuacionismo como uma mera "nota de rodapé" ao Neodarwinismo. Dawkins, um dos maiores defensores contemporâneos do Evolucionismo, também contribuiu para a ciência mediante a ênfase da Seleção Natural a nível Genético, sugerindo que a Evolução seria como se, de um certo modo, ocorresse uma luta dos próprios Genes para se perpetuar, utilizando os organismos como veículos. Dawkins é também o formulador da hipótese da Memética, que numa analogia à sua proposta da Evolução com ênfase genética, sugere que as informações na forma de estruturas fundamentais chamadas Memes, também se comportariam de forma similar aos genes, lutando para se perpetuar da melhor forma possível, o que abre a possibilidade de estender a Teoria da Evolução até mesmo para a dinâmica cultural e teorias da informação.
O EGOÍSMO GENÉTICO
Mas a maior contribuição de Dawkins, além da divulgação científica, vem mesmo deste ser o mais famoso porta-vos da teoria do Gene Egoísta. Que reduz o processo evolutivo à um nível fundamental, a unidade genética.
Para esse ponto de vista, a evolução não ocorre a nível de espécie, de grupo ou mesmo de indivíduo, mas sim a nível de Genes, que podem ser entendidos como os auto replicadores fundamentais que estão presentes desde os primórdios da vida na Terra até hoje, quer na forma de enzimas, vírus, integrando bactérias ou seres muitíssimo mais complexos e maiores, como os animais.
Sendo o Gene uma mera estrutura molecular sem qualquer intencionalidade ou propósito, e sim tendo a mera natureza de gerar cópias de si mesmo, podemos compará-lo com um agente que visa unicamente seu próprio benefício, isto é, sua própria perpetuação, que evidentemente se dá em cooperação com a perpetuação de outros genes.
Os seres vivos então nada mais seriam do que imensas colônias de genes que lutam independentemente para se perpetuar, sendo então imortais e pulando de corpos para corpos através de gerações que já perpassam bilhões de anos.
Essa concepção tem inúmeras consequências, entre elas esclarecer o porque da competição não somente entre espécies, mas também indivíduos de uma mesma espécie, elucidar certos comportamentos de cuidado com a prole, pois afinal os descendentes compartilham 50% dos genes do genitor. Também torna mais compreensível certas relações de parentesco de benefício mútuo, em razão da similaridade genética entre os indivíduos. Bem como dá um sentido maior ao sacrifício voluntário dos pais pelas crias, uma vez que preservando-as, os genes podem sobreviver indefinidamente, o que não ocorre se o indivíduo não deixar descendentes, mesmo que viva muito tempo.
Continua...
10 de Agosto de 2002 - 23 de Maio de 2005 Marcus Valerio XR FREE MIND!!!

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